Advocacia feminista ou barbárie: um apelo ao bom senso

O post de hoje é um apelo sincero e quase desesperado de uma advogada que milita pelos direitos das mulheres e enfrenta um judiciário machista e misógino há dez longos anos, e jamais viu tamanho escárnio e violência – tudo isso no auge de meu puerpério.

Há dois meses me deparei com um processo colérico. Mais uma mãe acusada arbitrariamente de Alienação Parental ao tentar defender os interesses e a integridade emocional de seu filho. A guarda da criança foi revertida para o genitor em sede de liminar durante uma audiência e, na sexta-feira que antecedia o dia das mães, sofreu mais uma violência brutal: teve seu direito de convivência com o filho suspenso, podendo contatá-lo somente por meio de videochamadas.

Dias após, designou-se audiência de instrução e julgamento num prazo inferior a 24 horas e, por óbvio, me manifestei pedindo a suspensão do processo (do qual somente eu sou a procuradora) devido ao puerpério, um direito garantido pelo Estatuto da OAB e por todos os princípios que resguardam a maternidade e aí nasceu mais uma violência – mais agora contra mim, mulher e mãe advogada.

Por aqui, estou com João Pedro nos braços, lendo e me revoltando com todas as manifestações nefastas dessa demanda. Com um bebê no colo e de apenas 15 dias, é difícil até escrever esse texto, e o faço com a voz embargada e as lágrimas caindo.

Como se não bastasse, a advogada do genitor, despida de qualquer sensibilidade ou empatia, se manifestou contra a suspensão pela qual eu tenho direito e o consequente adiamento da audiência, justificando-se ainda que eu teria uma equipe no meu escritório e que, portanto, não teria que haver suspensão de prazo. Ora, uma audiência designada com menos de 24 horas e a advogada ainda achando que no auge do meu puerpério eu deveria fazer aquela audiência pesada e repleta de violências. Desrespeitou não somente a mim enquanto mulher, enquanto advogada, e por ser minha colega de classe (o que acho ainda mais temerário), mas desrespeitou meu direito de mãe, de advogada e a minha maternidade.

A prova desse absurdo é que mães não tem paz, mães e advogada tampouco. A advogada diante do meu atestado protocolado aos autos sabia: eu acabei de dar a luz e isso é chocante demais.
Quero aqui salientar que o processo é movido por ódio, vingança e violações de direitos humanos e da mulher, mas sua violência tem sido reiterada, reforçada, impetrada e aplaudida por mulheres – inclusive a defensora do genitor, essa própria que foi desumana e desconsiderou não somente o meu puerpério mas o próprio impacto sobre o meu bebê.

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