Pode apanhar do marido mas ele ser um “bom pai”. Será?

A declaração da juíza é absolutamente indignante e reflete uma total falta de sensibilidade e compreensão das complexidades da violência doméstica. Ao justificar a possibilidade de a vítima sofrer violência do parceiro com a desculpa de que ele é um “bom pai”, essa juíza perpetua a violência institucional e contribui para a revitimização das pessoas que já estão sofrendo em situações extremamente vulneráveis.

A violência doméstica é um problema grave e sistemático que afeta inúmeras pessoas em todo o mundo, independente do seu papel como pais ou mães.

Permitir que um agressor continue a cometer abusos só porque é considerado um “bom pai” é uma abordagem irresponsável e perigosa. Ela coloca a responsabilidade da violência sobre a vítima, sugerindo que ela deve aceitar os abusos para preservar o relacionamento entre o agressor e as crianças.

Essa mentalidade revela uma profunda falha na perspectiva de gênero dentro do Poder Judiciário Brasileiro. É alarmante que uma figura de autoridade, responsável por proteger os direitos das pessoas, perpetue estereótipos ultrapassados e preconceitos arraigados que reforçam a desigualdade de gênero e colocam a vítima em uma posição ainda mais vulnerável.

O Protocolo para julgar com perspectiva de gênero é um passo importante, mas está claro que não é suficiente. A mudança real só ocorrerá quando todos os membros do sistema judiciário, incluindo juízes e juízas, forem devidamente capacitados para reconhecer e combater a violência de gênero em todas as suas manifestações. Isso inclui compreender a complexidade das dinâmicas abusivas e o impacto que elas têm nas vítimas.

O Judiciário brasileiro precisa urgentemente adotar uma abordagem mais compassiva e empática em relação às vítimas de violência doméstica. Isso envolve ouvir e respeitar suas histórias, reconhecer suas necessidades e proteger seus direitos.

Além disso, é fundamental que as instituições judiciais sejam mais inclusivas e diversificadas, para que as perspectivas de gênero e as experiências de diferentes grupos sejam levadas em consideração na tomada de decisões.

A revitimização das pessoas que buscam ajuda no sistema de justiça é inaceitável e perpetua um ciclo de violência e injustiça. A sociedade como um todo deve exigir uma mudança profunda na cultura judiciária, garantindo que as vítimas sejam tratadas com dignidade e que seus direitos sejam respeitados. Não podemos aceitar discursos como o dessa juíza, pois isso não só prejudica as vítimas, mas também mina a credibilidade e a integridade do próprio sistema de justiça. É hora de agir e exigir uma reforma verdadeira, para que nenhuma pessoa seja mais desamparada e desrespeitada pelas instituições que deveriam protegê-las.

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